A Rosa+Cruz Hermética, Espelho do Universo de Bolso que Chamamos Tarô


 


No verso de cada uma das cartas do Thoth Tarot existe um símbolo da mais alta valia para todos que caminham, ou pretendem trilhar os caminhos da Magia Cerimonial, do hermetismo, ou do Tarot. Calma, eu não estou dizendo que para ler Tarot, você precisa conhecer este símbolo, mas sem conhecê-lo, assim como ao corpo de saberes que o cerca, você perde uma parte interessante da cultura tarológica, assim como se priva de boa parte das chaves de interpretação de baralhos como este que temos agora em mãos. 

 
 

O Hermetismo, além de ser um corpus de saberes, é também uma maneira de enxergar o universo. Sob a sua lente, tudo está interligado, e coisas semelhantes podem ser aproximadas para fins de tradução e obtenção de mensagens, mediante o uso da analogia. O hermetista enxerga o universo como um livro vivo, e para se afinar na arte de traduzir este livro, ele usa letras e imagens como ferramenta. Por isso, historicamente, hermetistas produziram tantas alegorias e mapas imaginários. Aliás, para uma mente hermética, tudo é mapa, e basta uma olhadela rápida num livro como "Alquimia e Mística (Taschen)", para comprovar isto. O Corpo humano, cidades, o pavão, árvores, catedrais, e até mesmo o olho humano, tudo isto já serviu para hermetistas "trazerem para baixo", realidades do Alto. Em 1888 vinha à luz, na Inglaterra, o Liber T, um livro que sintetizava o mapa mágico iniciático da Ordem Hermética da Aurora Dourada, Golden Dawn, que tinha no seu seio pessoas que se apresentavam como herdeiros dos hermetistas e rosacruzes. Sobre estes últimos, muito poderia ser dito, assim como sobre a coerência dos ocultistas ingleses aos ideais rosacruzes, mas o que nos interessa aqui é que "rosa+cruz hermética" é o nome do nosso símbolo. Este glifo, que precede a Golden Dawn, em linhas gerais, retrata o Microcosmo (cruz) unido ao Macrocosmo (rosa), o limitado unido ao ilimitado, o que equivale ao Casamento Alquímico, a verdadeira Pedra Filosofal, a cessação de toda dualidade ilusória. Os hermetistas da Golden Dawn transformaram o Tarot em um mapa para esta Unidade, cruzando com um outro mapa de jornada, a Árvore da Vida, cujas Esferas e Caminhos correspondem a desvelamentos no caminho para a Luz Infinita. Embora goste muito da Árvore, tendo a gostar mais da Rosa, pela sua ligação com o rosacrucianismo renascentista (que eu amo), com a mística islâmica (sim!), assim como o seu caráter de mandala, afinal, a Rosa é uma Roda, né? As pétalas macro-cósmicas desta rosa brotam da Luz Infinita, Luz que se decanta e se desdobra em outras 22 pétalas que correspondem às 22 letras do alfabeto hebraico, e aos 22 Arcanos Maiores. A própria ideia de Arcanos Maiores surge aqui, como "Mistérios" do caminho a serem desvendados pelo iniciado, e sim, a ideia do Tarot enquanto caminho também é assentada aqui. A relação com as letras hebraicas não é sem propósito. Para os místicos da Cabala, as letras não são meros sinais gráficos, mas os tijolos da Criação, forças divinas que atuam na estruturação do Cosmo. Logo, nesta perspectiva hermética, os Arcanos são forças cósmicas análogas as letras hebraicas. Na nossa rosa macrocósmica, temos, de dentro para fora, as três letras-mães, Álef, Mem e Shim, que são também os três elementos alquímicos primordiais, Água, Fogo e Ar. Também são Sal, Mercúrio e Enxofre, assim como os Arcanos O Louco, O Julgamento e O Pendurado. Aqui temos as três energias motrizes de toda a Roda, algo muito parecido com os três animais no centro da Roda da Vida budista. Depois das três mães, temos as sete letras duplas, começando da pétala amarela, em sentido horário, BeitResh, Pê, Caf, Tau, GuimelDalet, associadas aos sete planetas, Mercúrio, Sol, Marte, Júpiter, Saturno, Lua e Vênus. Estes planetas são associados aos Arcanos Mago, Sol, Torre, Roda da Fortuna, Mundo, Alta Sacerdotisa e Imperatriz. Às doze letras restantes, as letras simples, correspondem os doze signos do zodíaco, e os doze Arcanos restantes, cujas relações listo abaixo, começando da pétala vermelha no topo, sentido horário. 

 - Áries - Imperador (no Thoth é A Estrela/Aquário). 

 
 

Qof - Peixes - A Lua 

 
 

Tsade - Aquário - A Estrela (no Thoth é o Imperador/Áries) 

 
 

Áiyn - Capricórnio - Diabo 

 
 

Samekh - Sagitário - Temperança (no Thoth é A Arte) 

 
 

Nun - Escorpião - Morte 

 
 

Lâmed - Libra -Justiça 

 
 

Yod - Virgem - Eremita 

 
 

Theth - Leão - Força (No Thoth é Lust) 

 
 

Chet - Caranguejo - Carro 

 
 

Záyn - Gêmeos - Os Amantes 

 
 

Vav - Touro - O Hierofante 

Importante ressaltar que estamos diante de um sistema de correspondências, e não de equivalências. O Carro NÃO É o que o signo de Caranguejo é para o astrólogo diante de uma carta natal. Os sistemas compartilham alfabetos, mas os significam de maneiras diversas. Dito isto, sigamos no nosso voo panorâmico sobre a Rosa-Cruz hermética. A Cruz é formada por quatro braços que correspondem aos quatro elementos, Água (azul), Ar (amarelo), Fogo (vermelho), e Terra, este com quatro cores, que representam estes elementos manifestos no nível mais grosseiro. Sobre a Terra, temos o branco do Espírito, a Quintessência, a natureza luminosa, fagulha da Luz Infinita macrocósmica, graças à qual a existência neste plano não um beco sem saída. Esta luz mais baixa é representada pelo Sol, cercado pelos seis planetas, formando um hexagrama, segundo alguns, um glifo para o grau máximo que um ser humano pode alcançar na jornada espiritual, cujo primeiro passo é aquele vislumbre estonteante de que a realidade é muito mais do que aparenta ser. Cada braço contém também pentagramas, onde estão contidos os Ases e os Arcanos Menores, que levam este nome justamente por representarem a ação de forças microcósmicas, o que gerou a ideia de que estas cartas falam sobre situações mais objetivas, ou até pessoas. Os braços da Cruz são coroados por permutações da tríade Sal/Mercúrio/Enxofre, sim, a mesma força motora do centro da Rosa Macrocósmica, pois: 

 
 

É verdade, certo e muito verdadeiro: 

O que está em baixo é como o que está em cima e o que está em cima é como o que está em baixo, para realizar os milagres de uma única coisa. 

E assim como todas as coisas vieram do Um, assim todas as coisas são únicas, por adaptação. 

O Sol é o pai, a Lua é a mãe, o vento o embalou em seu ventre, a Terra é sua alma; 

O Pai de toda Telesma do mundo está nisto. 

Seu poder é pleno, se é convertido em Terra. 

Separarás a Terra do Fogo, o subtil do denso, suavemente e com grande perícia. 

Sobe da terra para o Céu e desce novamente à Terra e recolhe a força das coisas Superiores e inferiores. 

Desse modo obterás a glória do mundo. 

E se afastarão de ti todas as trevas. 

Nisso consiste o poder poderoso de todo poder: 

Vencerás todas as coisas subtís e penetrarás em tudo o que é sólido. 

Assim o mundo foi criado. 

Esta é a fonte das admiráveis adaptações aqui indicadas. 

Por esta razão fui chamado de Hermes Trismegisto, pois possuo as três partes da filosofia universal. 

O que eu disse da Obra Solar é completo. 

 
 

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PARA APROFUNDAR O TEMA, LEIA: 

 
 

Lon Milo Duquette - Understanding Aleister Crowley's Thoth Tarot. Ainda que você não se interesse em aprofundar no Thoth, vale a pena ler o primeiro capítulo do livro, onde o Duquette mapeia magistralmente a Rosa-Cruz Hermética, com leveza e bom humor, sem ser raso. 

Robert Wang - O Tarô Cabalistico. Obra definitiva sobre o tema, escrita por um cara que manja muito de hermetismo moderno e Golden Dawn. 

Christopher McIntosh - The Rosicrucians: The HistoryMythologyand Rituals of an Esoteric Order. Esse é POWER, para quem quer entender o rolê num nívelabissal, vale muito, estou relendo. 

Para quem quer conhecer o sistema da Golden Dawn para além do Tarot, valem os livros do Israel Regardie e os do casal Cicero (Chic e Sandra). 

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